sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

GATOS: MANUAL DE INSTRUÇÕES

PARTE 6: PRINCIPAIS DOENÇAS

Já não era sem tempo, vamos voltar com as postagens sobre as principais doenças que podem acometer nossos Amigos Gatos, falaremos um pouco sobre a Peritonite Infecciosa Felina.




6.6 PERITONITE INFECCIOSA FELINA (PIF)

A Peritonite Infecciosa Felina é uma doença viral, imunomediada, que tem como agente etiológico um coronavírus que pode causar desde enterites até uma doença sistêmica, que é a PIF.

AGENTE ETIOLÓGICO

FcoV ou coronavírus felino, é um vírus muito contagioso que infecta um grande número de felinos, especialmente aqueles que vivem aglomerados uns com os outros.

EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO

A doença tem distribuição mundial, sendo principalmente uma doença de gatos domésticos, embora, felídeos selvagens possam também serem afetados.

Os fatores predisponentes para adquirir a doença são: faixa etária ( 6 meses - 2 anos e gatos idosos); raça (persa, abssínio, bengal, birmanês e himalaio); superpopulação em gatis, abrigos; desnutrição; doenças infecciosas crônicas e concomitantes como a Leucemia Viral Felina (FeLV) e Imunosupressão Viral Felina (FIV), além de fármacos imunossupressores.

A maior fonte de infecção são as fezes de gatos infectados, com isso os gatos saudáveis se contaminam ao dividir a mesma caixa de areia, vasilha de comida, lambidas etc.






PATOGENIA E SINTOMAS

A principal porta de entrada do vírus é a oral, este se replica nas células epiteliais  do trato respiratório ou da orofaringe. A partir daí, o animal inicia uma produção de anticorpos que migram para a região na tentativa de combater o agente infeccioso. Macrófagos fagocitam o vírus e o carreiam por todo o corpo, localizando em paredes venosas e perivasculares é aí que se produzem as lesões clássicas da doença, vasculite, ao contrário do que se pense, não é uma inflamação do peritôneo e sim de vasos sanguíneos afetados por reações imunes.

O período de incubação pode variar de dias a semanas. 

A PIF possui duas apresentações clássicas:

PIF Seca ou Não Efusiva:

É a forma crônica da doença, os gatos apresentam sintomas inespecíficos como febre, anorexia, letargia, perda de peso, diarreia e desidratação. Podem apresentar icterícia, notável nos olhos e nariz (se for branco/despigmentado), Em alguns casos, podem aparecer marcas nos olhos, ao redor da pupila, decorrente de sangramento no interior do olho.


Uveíte
Uveíte

PIF Úmida ou Efusiva:

Forma mais grave da doença, onde há sério comprometimento dos vasos sanguíneos (vasculite, flebite necrosante e trombose) levando a acúmulo de líquido no abdome (ascite) e tórax.

Cerca de 12% dos gatos que desenvolvem PIF Seca ou Não Efusiva, desenvolvem sintomas neurológicos (ataxia, desequilíbrio, descoordenação motora,  tremores de cabeça, convulsões, olhar deslocado em direções diferentes sem focar em um ponto fixo.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico clínico é muito difícil, uma vez que os sintomas são semelhantes a uma gama de outras doenças. Infelizmente, o diagnóstico definitivo é obtido post mortem.


É importante, durante os exames laboratoriais, avaliar o perfil da PIF seguindo quatro parâmetros, a saber:
  • Título de anticorpos para coronavírus felino;
  • Relação Albumina/Globulina (A/G) na efusão ou plasma;
  • Nível de Glicoproteína ácida alfa 1 (AAG); e
  • Citologia ou Hematologia.
Interpretação:


Título de anticorpos do FCoV - (Efusiva - Úmida)
A presença de anticorpos indica que o gato foi infectado com o FCoV, a causa da PIF. Qualquer título de anticorpos FCoV pode ocorrer em casos de PIF úmida ou efusiva, mas a maior parte dos gatos com PIF possuem títulos de anticorpos FCoV extremamente altos (1280 ou mais elevados). Títulos de anticorpos de 0 não são significativos e normalmente indicam que o gato não tem PIF, no entanto, se outros parâmetros sugerem um diagnóstico de PIF, apesar do título de anticorpos ser 0, esta é a única situação em que a detecção ARN do FCoV (RT-PCR), efetuada numa amostra da efusão, é diagnosticada como PIF. Nestes gatos, o vírus está tão presente na efusão que todos os anticorpos estão ligados a ele, e nenhum deles se une ao vírus no teste.)

Título de anticorpos para FCoV (Não Efusiva - Seca)
Os títulos de anticorpos para FCoV na PIF seca são, normalmente, iguais ou maiores que 1280. Um título de zero elimina, desde logo, a possibilidade de PIF não-efusiva.

Nota: muitos gatos saudáveis ou com outras doenças possuem anticorpos FcoV. A simples presença destes anticorpos não significa que estejamos perante um diagnóstico de PIF, se outros parâmetros do perfil não o indicam.


Proteínas totais na efusão e relação albumina/globulina (A:G) (Efusiva - Úmida)
A concentração de proteínas totais na efusão de um gato com PIF é, normalmente maior que 35 g/l e geralmente consiste em mais globulina do que albumina, fazendo cair a relação A:G. Uma A:G de < 0.4 indica que há probabilidade de ocorrência de PIF; se for >0.8 esta ocorrência está fora de questão; entre 0.4 e 0.8 implica ter em conta outros parâmetros. A A:G de uma efusão é um dos testes mais úteis para se obter um rápido indicador da existência ou não da doença, e pode ser efetuado em testes veterinários (dividindo os valores de albumina pelos de globulina).

Relação albumina/globulina (A:G) (Seca)
Na PIF, a concentração de globulina em soro ou plasma aumenta para mais de 40g/l. Consequentemente, a A:G baixa. Uma A:G de < 0.4 é indicadora de PIF, desde que as globulinas aumentem. A albumina baixa (ex. doença hepática) pode também baixar artificialmente a A:G. Uma A:G de >0.8 exclui a hipótese de ocorrência de PIF; e se estiver entre 0.4 e 0.8 é necessário ter em conta outros parâmetros.

Nível de AAG (Úmida/Seca)
A glicoproteína ácida alfa 1 (AAG) é uma proteína de fase aguda que se tem mostrado muito útil na distinção entre a PIF e outras condições clínicas semelhantes. No caso da PIF, os níveis de AAG são, por norma, mais elevados que 1500 mg/ml. Em gatos normais, vai até aos 500 mg/ml. Em gatos com peritonite bacteriana ou pleuresia, o nível de AAG aumenta e, por isso, a citologia se torna importante para as distinguir. Em cardiomiopatia, doenças hepáticas não-infecciosas e tumores, que são comumente confundidas com PIF, o nível de AAG é normal.

Citologia (Úmida)
Na PIF efusiva, existem geralmente menos do que 3 x 10 9 células nucleadas por litro na efusão e as células são predominantemente neutrófilos e macrófagos. Na peritonite bacteriana ou pleuresia, a contagem de glóbulos brancos na efusão é muito mais elevada e o citologista  normalmente encontrará bactérias (se forem intracelulares, isto indica que não eram simplesmente contaminação da amostra). A citologia de efusões pleurais é útil para distinção de linfomas (ou linfosarcomas) de forma tímica, uma vez que a célula predominante é o linfócito, que frequentemente são malignos. 

Hematologia (Seca)
Na PIF não-efusiva ocorre a linfopenia, uma anemia não-regenerativa com um hematócrito de 30% ou menos e, por vezes, uma neutrofilia e desvio à esquerda. Há que ter em conta que os gatos com outras infecções crónicas podem apresentar alterações hematológicas semelhantes. A hematologia permite distinguir a PIF da  Haemobartonella felis(ou anemia infecciosa felina), em que a anemia é regenerativa e poderá haver organismos visíveis nos eritrócitos. 

Conclusão:
Um gato com PIF úmida deve ser seropositivo para o coronavírus felino (FCoV), a proteína total da efusão deve ultrapassar 35g/l e a albumina/globulina ser inferior a 0.4 (ou, pelo menos, inferior a 0.8), o nível de AAG deve ser alto (mais de 1500 microgramas/ml) e a citologia deve revelar poucas células nucleadas, que são sobretudo neutrófilos e macrófagos.

Um gato com PIF seca deve ter um elevado título de anticorpos para o FCoV, ser hiperglobulinémico e ter uma baixa relação albumina/globulina. Deve ter ainda um nível alto de AAG, linfopenia, um hematócrito de menos de 30%, que é não-regenerativo, e possivelmente  neutrofilia. Em termos clínicos, o gato deve apresentar perda de peso e problemas ópticos, tais como irite, oclusão da veia central da retina (retinal vessel cuffing), queratite (keratic precipitates), clarões de luz no vítreo (aqueous or vitreous flare).

Atenção: um gato saudável com título de anticorpos para o FCoV não é portador de PIF seca.

TRATAMENTO

Infelizmente não existe um tratamento eficaz, o que pode ser feito é uma medida paliativa, na tentativa de melhorar o quadro.

PREVENÇÃO

Na falta de um tratamento adequado a prevenção da doença se faz imprescindível. Por se tratar de uma mutação de um vírus comum entre os gatos, é importante manter o ambiente saudável, especialmente em gatis, com água limpa, comida fresca, evitar acúmulo de fezes e urina e em áreas endêmicas vacinar os animais.

Existe no mercado uma vacina de aplicação intranasal (Primucell - Pfiser) que promete um aumento da resposta celular em cerca de 60-85%.

CONSIDERAÇÕES FINAIS




Muitas doenças acontecem independente de nossa vontade, especialmente as imunomediadas, no entanto, não podemos deixar de oferecer um ambiente sadio aos Nossos Amigos Gatos, na tentativa de debelar o máximo possível de enfermidades!

Façamos nosso melhor!

Até a próxima!

Tátilla Luz