terça-feira, 19 de julho de 2011

GATOS: MANUAL DE INSTRUÇÕES

PARTE 5: PRINCIPAIS ZOONOSES



Vamos iniciar uma série de postagens, cujo tema abordará as principais zoonoses transmissíveis de gatos para humanos. Falaremos sobre agentes etiológicos, epidemiologia, sintomas, patologia e tratamentos; Lembrando que esta última parte é responsabilidade de um profissional capacitado, no caso de gatos: um médico veterinário; no caso de humanos, um médico, portanto, fique atento sobre as doenças e seus sintomas e em caso de suspeita vá imediatamente a um médico e claro, leve seu bichano a um médico veterinário!



 5.1 TOXOPLASMOSE

Não bastasse a perseguição sofrida pelos gatos na Idade Média, nos dias atuais, seu grande estigma é a Toxoplasmose. Diante disso, falaremos tudo sobre a doença e principalmente a relação entre as grávidas e seus gatos.

O QUE É TOXOPLASMOSE?

É uma Zoonose cosmopolita (presente em todo o mundo), causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, considerado um eurixeno (capaz de infectar animais em diferentes níveis da escala zoológica), ou seja, parasita NÃO EXCLUSIVO de gatos, apesar deste ser seu único hospedeiro definitivo (aonde o ciclo de vida do parasito é completo).  É uma doença infecciosa, congênita ou adquirida e considerada benigna, pois quando uma pessoa sadia entra em contato com o parasita, suas próprias defesas são suficientes para debelar a doença. No entanto, dependendo do estado físico (desnutrição, estresse, doenças imunodepressoras, transplantes, gravidez etc) pode acontecer queda da imunidade e o indivíduo desenvolver a doença.

AGENTE ETIOLÓGICO

O agente causador da Toxoplasmose é o protozoário coccídeo Toxoplasma gondii, parasita intracelular obrigatório capaz de invadir, naturalmente, qualquer organismo animal de sangue quente (homeotermos) e possui três formas infectantes em seu ciclo de vida: oocistos, bradizoítos contidos em cistos e taquizoítos.




1. Oocistos
São encontrados nas fezes dos gatos, não esporulados e medem 12x10µm. Quando esporulados, o que leva de um a cinco dias, o oocisto contém dois esporocistos, cada um com quatro esporozoitos, é principal forma infectante.

2. Bradizoítos
Estão contidos em cistos e ocorrem principalmente nos músculos, fígado, pulmão e cérebro. Os bradizoitos são lanceolados e podem estar presentes vários milhares num cisto, que pode medir até 100µm de diâmetro. Quando o organismo reage (defesa), o Toxoplasma gondii fica encistado na forma de bradizoítos (forma latente).

3. Taquizoítos
São encontrados desenvolvendo-se em vacúolos em muitos tipos de células, como fibroblastos, hepatócitos, células reticulares miocárdicas. Causa a forma aguda da doença.


HOSPEDEIROS

Definitivos: Todos os felídeos, pois estão relacionados com a produção e eliminação dos oocistos (ovos) e perpetuação da doença, uma vez que somente neles ocorre a reprodução sexuada dos parasitos (Ciclo intestinal). Eles ingerem os cistos que estão nos tecidos dos animais homeotérmicos, principalmente de ratos e pássaros.

Intermediários: Qualquer mamífero, incluindo o homem, que se contaminam ao ingerirem oocistos liberados no ambiente (falta de higiene das mãos, frutas, verduras e legumes contaminados) ou através de carne crua ou mal cozida (Ciclo Extra-intestinal).

CICLO EVOLUTIVO



1. A maioria dos gatos (Hospedeiros Definitivos) infectam-se pela ingestão de animais infectados por Toxoplasma, usualmente roedores, pássaros, cujos tecidos contém taquizoítos ou bradizoítos, embora também possa ocorrer transmissão direta de oocistos entre gatos. Após a infecção, a parede do cisto é digerida no estômago do gato e no epitélio intestinal os bradizoítos liberados iniciam ciclos que culminam na produção de oocistos em 3 a 10 dias. Os oocistos são eliminados durante apenas uma a duas semanas, juntamente com as fezes, onde se tornam fonte de infecção para os hospedeiros intermediários.

2. A Liteira, é a fonte de contaminação mais comum para quem mora em apartamentos, pois é o local de eliminação de fezes e urina, utilizado pelos gatos. Como vimos, um gato com toxoplasmose elimina oocistos no ambiente até duas semanas após sua produção, em média, um mês depois de ser contaminado, o gato não é mais propagador da toxoplasmose. Mesmo assim, ao adquirir seu gatinho, faça a limpeza da liteira frequentemente, utilize luvas durante todo o procedimento e lave bem as mãos ao término da limpeza.

3. Grande parte dos gatos vivem livremente no ambiente externo, onde defecam, com isso, o ambiente se torna fonte de contaminação para vários tipos de hospedeiros diferentes, como herbívoros, carnívoros e o próprio homem. 

4. Os herbivoros ao ingerirem capim, vegetais, frutas, por exemplo, podem estar ingerindo também oocistos esporulados; os carnívoros, como o próprio gato, se contaminam ao ingerir carne crua contendo cisto com bradizoitos.

5. O homem/Mulher Grávida, hospedeiros intermediários, também se contaminam ao ingerir alimentos contaminados: mal lavados, mal cozidos (Contaminação comum à outras doenças), ou carne crua e mal passada, que podem conter bradizoítos encistados.


SINTOMAS

GATOS

Apesar do fato dos gatos se infectarem com frequência, a doença clínica é rara. A transmissão congênita, embora rara, ocorre após ativação de cistos de bradizoitos durante a prenhez.

CÃES

O aparecimento da doença é marcado por febre, com lassidão, anorexia e diarréia. São comuns pneumonia e manifestações neurológicas.

RUMINANTES

Existem apenas alguns relatos de toxoplasmose clínica associada a febre, dispnéia, sintomatologia nervosa, e aborto. Indubitavelmente, o papel mais importante da toxoplasmose em ruminantes é sua associação com aborto em ovelhas e mortalidade perinatal em cordeiros. Se a infecção ocorrer no inicio da gestação (< 55 dias), há morte e expulsão de pequeno feto, o que raramente é observado. Se a infecção ocorrer no meio da gestação, o aborto é mais facilmente detectado.

OUTROS HOSPEDEIROS

Tem-se relatado ocasionalmente toxoplasmose em suínos novos e aves.

HOMEM

A infecção no homem pode ser congênita ou adquirida. As infecções adquiridas ocorrem de duas maneiras. Primeiramente, pela ingestão de oocistos eliminados nas fezes de gatos. Isso pode ser diretamente por mãos contaminadas durante a limpeza do gatil, ou o que é mais provável, indiretamente, pela ingestão de verduras ou alimentos contaminados por fezes de gatos. As moscas também podem trasferir oocistos para alimentos. Em segundo lugar, uma importante fonte de infeção é a ingestão de carne mal cozida contendo cistos de Toxoplasma. As infecções adquiridas, em sua maioria, são assintomáticas. As infecções clinicamente aparentes apresentam-se como febre de baixo grau e mal estar com uma lindadenopatia geral acometendo predominantemente linfonodos cervicais, sintomas que são semelhantes aos da febre glandular. O envolvimento de órgãos vitais é raro, embora haja registros de miocardite, encefalite e retinocoroidite. Pode ocorrer agravamento da infecção em pacientes com imunossupressão. A infecção congênita, que ocorre apenas quando a mulher é exposta à infecção pela primeira vez durante a gestação , pode ser séria, com os taquizoítos cruzando a placenta na ausência de anticorpos maternos. Enquanto a maioria dessas infecções congênitas é assintomática, até 10% resultam em aborto, natimortos ou lesão do sistema nervoso do feto. A frequencia da doença é muito mais alta quando a infecção é adquirida no primeiro trimestre da gravidez. As crianças gravemente acometidas apresentam retinocoroidite e necrose cerebral, pode haver hepatoesplenomegalia, insuficiência hepática, convulsões e hidrocefalia.


EPIDEMIOLOGIA


Investigações epidemiológicas indicam que 60% dos gatos são sorologicamente positivos para o antígeno de Toxoplasma, a maioria adquirindo infecção por predação. Como poderia esperar-se, as infecções são mais prevalentes em gatos de rua, porém, após infecção, os gatos eliminam oocistos apenas por uma a duas semanas, depois ficam resistentes à reinfecção, contudo, os oocistos são muito resistentes e isto compensa o período relativamente curto de excreção de oocistos.


DIAGNÓSTICO


O diagnóstico específico é feito por testes sorológicos ou por demonstração dos organismos em tecidos de camundongos inoculados com material suspeito. Dois dos testes mais comumente utilizados medem anticorpos, o teste do corante de Sabin-Feldman e o teste de anticorpos por imunofluorescência indireta (IFI), é preferível o último, pois não requer organismos vivos. O teste ELISA é capaz de detectar uma infecção recente pela estimativa de anticorpos IgM, quando comparados a IgG.


TRATAMENTO


Na maioria dos casos não é necessário tratamento já que o sistema imunológico geralmente resolve o problema. Em gatos é utilizada a clindamicina e a pirimetamina. Em mulheres grávidas ou em imunodeprimidos usa-se espiramicina, pirimetamina e sulfadiazina, para controlar a multiplicação do Toxoplasma gondii, mas também deve ser fornecido ao paciente ácido fólico ou levedura de cerveja, para regularizar o sistema imunológico.

CONTROLE E PROFILAXIA

Os gatos se infectam durante a predação de roedores e pássaros, portanto, é dificil realizar o controle quando se trata de animais de rua, porém, os animais domésticos que não tem contato com o meio externo, raramente serão infectados e mesmo que cheguem em sua casa com a infecção, deixarão de eliminar os oocistos após duas semanas. A profilaxia consite em não manipular a liteira sem luvas e realizar higiene frequentemente com sabão, água sanitária e por segurança até ferver o recipiente durante as primeiras semanas. Para evitar contaminação oriunda dos alimentos, sempre lavar bem as frutas, verduras e legumes, ingerir água potável, clorada e filtrada; Nunca ingerir carne crua ou mal passada. As mulheres que pretendem engravidar devem fazer o exame sorológico para identificar anticorpos contra Toxoplasma e realizar o tratamento caso necessário.




Bom, depois de tanta informação sobre a doença, ficou fácil entender que grande parte da população mundial já entrou ou entrará em contato com o Toxoplasma, porém, a própria defesa de seu organismo se prontificará em combatê-lo. É importante ressaltar que, mesmo latente, a Toxoplasmose pode reaparecer no organismo quando a imunidade do hospedeiro estiver baixa (gravidez, transplantes, Aids e demais doenças imunodepressoras, estresse etc.)


A grávida não precisa se desfazer de seus gatos, pois os mesmos não representam risco de transmitir a Toxoplasmose, se forem tomados todos os cuidados sobre os quais já mencionamos.





Até a próxima postagem!