segunda-feira, 26 de setembro de 2011

GATOS: MANUAL DE INSTRUÇÕES

PARTE 5: PRINCIPAIS ZOONOSES


Segue mais uma Zoonose de Felinos Domésticos que podem ser transmitidas aos seres humanos







5.4 ESPOROTRICOSE


A esporotricose é uma doença fúngica zoonótica que infecta várias espécies animais, porém os gatos são as fontes mais notáveis de transmissão de esporotricose aos humanos. Geralmente o fungo é encontrado no solo, crescendo em plantas, cascas de árvores,  vegetais e material em decomposição, estando preferencialmente presente em ambientes quentes e florestas úmidas. A distribuição da esporotricose é mundial, ocorrendo principalmente em áreas tropicais e subtropicais, como o nosso país.


AGENTE ETIOLÓGICO


O fungo causador da esporotricose é o Sporothrix schenckii, uma espécie de fungo dimórfico da família Ophiostomataceae. Sporothrix schenckii é a única espécie descrita para o gênero Sporothrix.

S. schenckii em forma de bolor
S. schenckii em forma de levedura


EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO

Cães, gatos e seres humanos são suscetíveis à doença, que geralmente está associada à feridas e traumas cutâneos. Em cães, a forma de contágio mais comum é através de espinhos ou lascas de madeira; Os gatos de forma geral tem o hábito de cavar buracos para enterrar suas fezes e urina, além de arranhar troncos de árvores para demarcar território, nestes casos, se o fungo estiver presente no ambiente, terra ou tronco, o gato irá contaminar suas unhas, podendo infectar outros animais ou o homem, mesmo estando saudável; O homem pode ser infectado ao trabalhar em lavouras, cultivos de rosas (espinhos) ou diretamente através do contato com animais contaminados: se estiver com algum ferimento na pele e tiver contato com secreções provenientes das feridas dos animais; podendo ainda contrair esporotricose ao ser arranhado, caso o cão ou gato tenham o fungo nas unhas.

PERÍODO DE INCUBAÇÃO


Varia de três dias a seis meses, tendo uma média de três semanas.


PATOGENIA


O gato transfere o conteúdo de suas unhas através da lambedura, passando o fungo presente nos membros para o focinho e orelhas. Havendo uma solução de continuidade (ferida), o fungo penetra no tecido subcutâneo, onde inicia-se o desenvolvimento de pequenos nódulos de um a três centímetros de diâmetro no local da inoculação e à medida que a infecção atinge os vasos linfáticos, desenvolvem um cordão de novos nódulos, ocorrendo pústula local ou ulceração. A infecção se desenvolve por difusão hematógena ou  tecidual do local inicial da inoculação para ossos, pulmão, fígado, baço, testículos, trato gastrointestinal ou sistema nervoso central.


SINAIS CLÍNICOS


Os sintomas dependem de qual ou quais órgãos foram afetados. A forma cutânea é a mais comum, podendo apresentar-se de quatro maneiras diferentes:


  • Cutâneo-localizada: formação de nódulos localizados, avermelhados que podem aparecer nos olhos e na boca.
  • Cutâneo-linfática: caracteriza-se por nódulos que podem atingir os vasos linfáticos e ocasionar disseminação linfática, caracterizada por um cordão de nódulos.
  • Cutâneo- disseminada: nódulos se disseminam pela pele, comum em imunodeprimidos.
  • Extra-cutânea: atinge outros órgãos além da pele - ossos, pulmões, fígado, baço e sistema nervoso.


Gato com esporotricose - lesão nasal




Esporotricose felina - várias lesões na face e membros

DIAGNÓSTICO

O Diagnóstico é baseado no histórico relatado pelo proprietário, exame físico e dermatológico realizado pelo médico veterinário que compreende exames laboratoriais para identificação do agente etiológico. A confirmação diagnóstica é feita com o isolamento do Sporothrix schenckii em meio de cultura.


TRATAMENTO


Os gatos respondem bem ao tratamento antifúngico regular e prolongado, sendo os medicamentos de escolha para tratamento os iodetos inorgânicos (iodeto de potássio e iodeto de sódio), cetoconazol e itraconazol. O itraconazol e o cetoconazol mostram resultados encorajadores contra doenças fúngicas, porém, é importante ressaltar que, independente da droga de escolha, o tratamento deve ser seguido sob supervisão de um médico veterinário que indicará o tempo de tratamento e o momento da suspensão do uso de medicamentos, pois muitas vezes, ao menor sinal de cicatrização das lesões, leigos suspendem o tratamento sem o consentimento do médico, ocasionando recidiva da doença.




SOS Felinos: A gatinha Linda, com esporotricose  - lesão nasal


Linda após tratamento

PROFILAXIA


A esporotricose é uma doença contagiosa, portanto, é de fundamental importância o cuidado na manipulação de animais contaminados, pois o conteúdo das lesões (secreções e exsudatos infectados) são as principais fontes de contaminação. Os animais em tratamento devem ser isolados do convívio com outros animais e pessoas até o final do tratamento. No caso de gatos que tem acesso ao meio extra domiciliar, recomenda-se castração para diminuir suas saídas e contato com possíveis locais contaminados, uma vez que o agente etiológico encontra-se no meio ambiente e seu controle é praticamente impossível. Os gatos que vivem confinados em apartamentos estão praticamente livres do risco da doença, exceto se você utilizar areia ou terra de origem duvidosa, por isso, indicamos o uso de areia sanitária, aquela encontrada nos supermercados e pet shops. Para as pessoas que trabalham na agricultura e na lavoura, recomenda-se o uso de luvas apropriadas para evitar o contato direto com a terra e os espinhos de algumas plantas, tendo em vista que a doença também é conhecida como " Doença de rosas de jardim".


CONSIDERAÇÕES FINAIS








Apesar da esporotricose ser transmitida por gatos, vimos que também pode ser adquirida sem a intervenção deles, uma vez que o fungo está presente no ambiente, assim como vários outros agentes etiológicos de inúmeras doenças. Nosso objetivo é alertar para a existência do risco e indicar os principais meios para evitá-lo e, se for o caso, combatê-lo. 


Até a próxima postagem!



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