quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

GATOS: MANUAL DE INSTRUÇÕES

PARTE 6: PRINCIPAIS DOENÇAS


A próxima postagem não abordará apenas uma doença em particular, mas sua síndrome, ou seja, um complexo de sintomas relacionados à doenças do sistema urinário dos felinos.






6.2 SUF (SÍNDROME UROLÓGICA FELINA)


A denominação Síndrome Urológica Felina é utilizada no intuito de designar distúrbios que afetam o trato urinário felino, tendo como sinônimas as denominações: Doença do trato inferior dos gatos e Obstrução uretral felina. A doença ocorre em machos e fêmeas, porém, é mais observada em machos devido ao cumprimento da uretra. 

FATORES PREDISPONENTES

A SUF tem causa idiopática, ou seja, não existe uma causa definida. Acredita-se que o problema esteja relacionado à alimentação e ao sedentarismo, uma vez que a doença é observada, principalmente, em gatos obesos; confinados em apartamentos, sem a prática ou espaço para atividades físicas (correr atrás de bolas de papel, sacolas etc, qualquer coisa que o faça gastar energia); alimentação seca, com alto teor de proteína; baixa ingestão de água e consequente diminuição da micção. Outros fatores podem ser anatômicos ou decorrentes de outras doenças e infecções.




PATOGENIA

Basicamente, a síndrome urológica felina ocorre por obstrução da uretra, ocasionada pela deposição de sais e formação de cristais, uma vez que a urina está mais concentrada, seja pela dieta (alto teor de proteína), seja pela baixa ingestão de líquidos; Quando há formação de cálculos, estes podem, durante o trajeto da bexiga para a uretra, ficar presos bloqueando o canal, dificultando o fluxo de urina, levando o animal a urinar com dificuldade ou até mesmo a não conseguir urinar. Se o animal não consegue eliminar a urina, esta fica acumulada na bexiga podendo levar à cistite.


Distúrbios no Trato urinário felino
Trato urinário felino normal













SINTOMAS

Como na maioria das doenças, o animal apresenta mudança de comportamento, demonstrando apatia, inapetência, desidratação, diminuição da micção, dificuldade ao urinar, geralmente o animal mia indicando que sente dor ao tentar urinar, passa bastante tempo na caixa de areia na tentativa de encontrar uma melhor posição ou forma de urinar sem dor; há aumento na frequência de lambidas na região genital;  urina com sangue; interrupção da micção, cistite.


Lambedura na região genital
Urina com sangue





DIAGNÓSTICO

Dependendo do estágio da doença, pode ser detectada através de simples exame clínico observando o biotipo do animal, sua dieta, mudanças de comportamento. Geralmente o proprietário encaminha o animal ao veterinário quando este urina fora da caixa de areia, ou mia muito ao urinar, as vezes o motivo é a cor da urina, ou anúria. Recomenda-se, além do exame físico: palpação abdominal, análise da região genital, sumário de urina, hemograma. Para uma avaliação mais eficiente, indica-se radiografia do trato urinário e/ou ecografia, para localização de possíveis formações de cálculos.

Cálculos localizados na bexiga de um felino
Cistite Felina











TRATAMENTO

Também irá depender do estágio da doença. A dieta é fundamental em qualquer fase, imprescindível no inicio, já que poderá diminuir a formação de novos cálculos; É importante fornecer a ração adequada para cada fase da vida do seu gato, pois como já vimos, quando são filhotes precisam de mais proteína, uma vez que estão em fase de crescimento, quando passam para a fase adulta, necessitam de outros nutrientes além da proteína, esta será balanceada em diferentes proporções daquelas fornecidas aos filhotes. 




Água ad libitum é sempre importante, gatos gostam de água limpa e fresca, observe que sempre que você faz a higiene da vasilha e coloca água limpa, seu gato vai imediatamente beber! Assim como você, ele gosta do que é saudável. 





Note que gatos que praticam atividade física bebem mais água, portanto, estimule seu gatinho a brincar, tire um tempo do seu dia para dedicar a seu bichano, além de acabar com o sedentarismo dele, possivelmente irá acabar com o seu também!! Os dois sairão ganhando...



Quando os cálculos estão bloqueando a luz do canal uretral, pode-se tentar desobstruir com auxílio de cateteres; Se possível, sob sedação, pois a manobra causa desconforto local. Algumas vezes a obstrução leva ao acúmulo de urina e quando a massagem abdominal não permite a liberação da urina é preciso fazer punção, entretanto, este método é bastante invasivo, o que pede bastante perícia para evitar infecções. Recomenda-se punção da bexiga também com auxilio do cateter. Se houver cistite deve ser realizada uma antibioticoterapia e uso de antinflamatórios.


Cateterismo uretral em felino macho


Punção de Urina - forma bastante invasiva


Quando há intensa formação de cálculos, muitas vezes é preciso realizar uma intervenção cirúrgica.

Cálculos retirados da bexiga de um felino após cirurgia

PROFILAXIA

Como vimos, não há causa definida para desencadear a SUF, porém, existem alguns fatores que podem favorecer o desenvolvimento da doença. Quando a causa não for congênita ou decorrente de outras patologias, podemos evitar a SUF melhorando a dieta e proporcionando atividades físicas para nossos Amigos Gatos.




Mais uma vez percebemos que a maioria das doenças são oriundas de um manejo inadequado, seja nutricional, ou comportamental. Sempre que surgir alguma dúvida sobre alimentação, saúde ou comportamento, revise as outras postagens!!




Até a próxima,
Boas Festas!


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

GATOS: MANUAL DE INSTRUÇÕES

PARTE 6: PRINCIPAIS DOENÇAS


A partir de agora, falaremos sobre as principais doenças que acometem nossos Amigos Gatos. Fiquem atentos, pois, uma vez que você conheça o comportamento normal do seu gato, irá identificar facilmente qualquer problema!



6.1 VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA FELINA - FIV (Feline Immunodeficiency Virus)

O FIV, Vírus da Imunodeficiência Felina, é popularmente conhecido como Aids Felina já que debilita os gatos da mesma forma que o HIV debilita os humanos,  devido à baixa imunidade causada pelo vírus, facilita o aparecimento de anemia, aquisição de doenças etc. Apesar do FIV pertencer à mesma família do HIV, é altamente espécie-específico, ou seja, só acomete felinos.

AGENTE ETIOLÓGICO

O FIV pertence à família Retroviridae subfamília Lentivirinae, gênero Lentivirus. É envelopado, apresenta cerca de 100nm de diâmetro. Oficialmente reconhecidas pelo ICTV (Comitê Internacional de Taxonomia Viral), as espécies de Lentivirus que podem infectar os  felídeos são três: 

  • FIV-P : Vírus da Imunodeficiência Felina cujo protótipo é a linhagem de Petaluma, isolada a partir de gatos domésticos (Felis catus);

Gato doméstico -  Felis catus

  • FIV-O: Vírus da Imunodeficiência Felina isolado de um gato de pallas (Otocolobus manul), um felino natural da Ásia Central.


Gato de Palla - Otocolobus manul

  • PLV: Lentivírus de Puma isolado de Pumas Norte-americanos (Puma concolor).



Cougar ou Puma (Puma concolor)

Outros Lentivírus  como o FIV-Ple e o de leopardo FIV-Ppa foram isolados de leões (Panthera leo) e leopardos (Panthera pardus) respectivamente, porém, não foram reconhecidos ainda como espécies pelo ICTV.

EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO

A forma predominante de transmissão é a saliva, porém, também pode ocorrer transmissão intrauterina, perinatal, pelo leite ou pelo sêmen de machos soropositivos (Jordan et al, 1995; O'Neal et al, 1995). Uma vez infectado, o animal pode desenvolver desordens hematológicas e  deficiência imunológica, tornando-se susceptível a infecções secundárias.

PATOGENIA

O FIV causa a síndrome da imunodeficiência em gatos domésticos, que envolve depleção de linfócitos T-helpers com receptores do tipo CD4+ à semelhança da infecção pelo HIV. O curso da doença induzido pelo FIV é longo, ou seja, o período decorrido entre a infecção e a morte, geralmente é de vários anos.
Após a inoculação, o vírus é carreado para linfonodos regionais e replica-se em linfócitos T. O vírus então se espalha pelos linfonodos do corpo resultando em seu aumento generalizado.

SINTOMATOLOGIA

O curso clínico da Imunodeficiência Felina pode ser dividido em cinco fases:
  • Estágio 1 - Fase Aguda: Inicia-se 4-6 semanas após a infecção, caracteriza-se por febre com duração de vários dias, leucopenia que dura de 4-9 semanas. No entanto, muitos gatos passam por esta fase sem apresentar sinais clínicos da doença.
  • Estágio 2 - Portador Assintomático: A maioria que sobrevive a fase aguda evolui para a fase assintomática por um longo período de tempo (meses ou anos). A diminuição relativa dos neutrófilos, dos linfócitos totais e dos linfócitos CD4+:CD8+ e um aumento das células B estão associados com os gatos portadores assintomáticos.
  • Estágio 3 - Fase de persistente linfadenopatia generalizada: Nesta fase, o paciente mostra-se sadio apesar da linfadenopatia, está associado a sinais vagos da doença como febre, inapetência, perda de peso e anomalias comportamentais.
  • Estágio 4 - Fase do Complexo relacionado à Aids: Manifestações crônicas da doença tais como doenças dermatológicas, respiratórias ou entéricas. As gengivites, estomatites e periodontites tem sido os sinais clínicos mais comuns em gatos com FIV. em um grau menor de frequência, alguns gatos apresentam sinal de infecção no trato respiratório superior, perda de peso, otite externa, abscessos, feridas de difícil cicatrização, febre, diarreia, alterações hematológicas (anemia, linfopenia, neutropenia e trombocitopenia), neoplasias e doenças neurológicas. Doenças intraoculares relacionadas à infecção por FIV incluem uveíte anterior linfocítica plasmática e glaucoma.
  • Estágio 5 - Fase terminal - Síndrome da Imunodeficiência adquirida: Neste estágio, os gatos desenvolvem linfoma, insuficiência renal ou criptococose. 

DIAGNÓSTICO

Os métodos mais recomendados são os imunoenzimáticos em busca de anticorpos circulantes, os testes imunoenzimáticos devem ser confirmados pelo teste de Western blotting, pois este detecta anticorpos para outras partículas virais.

TRATAMENTO


Não há cura para a infecção do Vírus da Imunodeficiência Felina, o tratamento consiste em debelar as infecções oportunistas/secundárias; e vai depender do quadro sintomático do animal.

PROFILAXIA

A vacina existente no mercado é de vírus inativado, produzida para as clades A e D. Em se tratando de um retrovírus, este possui capacidade recombinante entre seus subtipos, criando novas variantes virais, logo, para uma vacinação efetiva é necessário o conhecimento da prevalência dos subtipos virais da região.

Como profilaxia inespecífica, pode-se evitar a ida dos gatos à rua, na tentativa de prevenir possíveis brigas entre machos e consequentes arranhões e mordidas, o que levaria a transmissão da doença se um deles for soropositivo para FIV.



É importante que seu gato esteja sempre em dia quanto às vacinações e vermifugação, mantenha sempre seu ambiente limpo, com água e alimento disponível, isso é a base para uma vida saudável!

Em caso de dúvidas, postem seus comentários!!!!

Até a próxima postagem,

Tátilla Luz

domingo, 9 de outubro de 2011

GATOS: MANUAL DE INSTRUÇÕES

PARTE 5: PRINCIPAIS ZOONOSES


Apesar de incomum, também pode ocorrer transmissão desta doença dos gatos para o ser humano. Segue mais um post sobre zoonoses felinas.






5.5 CLAMIDIOSE FELINA


A clamidiose felina é uma doença causada pela Chlamydophila felis, uma bactéria Gram negativa que causa distúrbios respiratórios e oculares em gatos, especialmente em filhotes (2 a 6 meses de idade). Ocorre em todo o mundo e afeta cerca de 5 a 10% da população.

AGENTE ETIOLÓGICO

A família Chlamydiae é dividida em dois gêneros: Chlamydia e Chlamydophila. O gênero Chlamydophila possui quatro espécies que geralmente são altamente espécie-específicos, onde cada cepa infecta um ou apenas alguns animais diferentes. A bactéria que está relacionada com a Clamidiose felina pertence à espécie Chlamydophila felis que aparentemente está altamente adaptada a este hospedeiro, raramente causando infecções em outros animais.

EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO

A clamidiose é transmitida diretamente entre animais pelo contato direto com secreções provenientes de descargas nasais e oculares, havendo possibilidade de transmissão através de fômites.

PERÍODO DE INCUBAÇÃO

O período de incubação é de 2-5 dias podendo chegar até 10 dias.

PATOGENIA


A bactéria se multiplica no citoplasma das células do epitélio da conjuntiva causando sua ruptura e liberando organismos que irão infectar outras células epiteliais. 

SINTOMAS

A quemose é um sinal característico da clamidiose, observando-se conjuntivite intensa com hiperemia extrema da membrana nictante, blefarospasmo e desconforto ocular. No inicio apresenta-se somente uma leve descarga ocular serosa e blefarospasmo, evoluindo para uma descarga ocular purulenta bilateral, corrimento nasal, também purulento, e espirros ocasionais. A hiperemia ocular pode estar presente durante vários dias no estágio inicial. A conjuntivite pode persistir por 2 meses ou mais. Viroses respiratórias podem agravar o quadro de infecção bacteriana por Chlamydophila e concomitantemente agravar a conjuntivite. Em filhotes pode causar pneumonia.


Conjuntivite ocasionada por Clamidiose felina e outros agentes infecciosos secundários

Conjuntivite mucopurulenta e quemose associadas à Chlamydophila

Hiperemia ocular, conjuntivite ocasionada por Clamidiose felina

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico pode ser realizado através de culturas de swab conjuntival, teste de ELISA e pesquisa de anticorpos para Chlamydophila, além de observação clínica e histórico do animal.

Swab para diagnóstico de clamidiose felina
TRATAMENTO

O prognóstico da doença é BOM, se o diagnóstico for realizado precocemente e realizada um tratamento adequado. Como se trata de uma bactéria gram negativa, deverá se combatida com antibióticos específicos.

PROFILAXIA


Existem vacinas disponíveis, geralmente vacinas vivas (cepas atenuadas) e associadas a outros agentes de doenças felinas (quádruplas e quíntuplas). Gatos que vivem em grupos ou que tem acesso a rua devem ser vacinados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS





Bom, com a Clamidiose Felina encerramos nossas postagens sobre zoonoses. Esperamos que tenham aproveitado o conteúdo disponibilizado até agora! Continuaremos falando sobre as principais doenças de gatos nas próximas postagens! 

Até lá!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

GATOS: MANUAL DE INSTRUÇÕES

PARTE 5: PRINCIPAIS ZOONOSES


Segue mais uma Zoonose de Felinos Domésticos que podem ser transmitidas aos seres humanos







5.4 ESPOROTRICOSE


A esporotricose é uma doença fúngica zoonótica que infecta várias espécies animais, porém os gatos são as fontes mais notáveis de transmissão de esporotricose aos humanos. Geralmente o fungo é encontrado no solo, crescendo em plantas, cascas de árvores,  vegetais e material em decomposição, estando preferencialmente presente em ambientes quentes e florestas úmidas. A distribuição da esporotricose é mundial, ocorrendo principalmente em áreas tropicais e subtropicais, como o nosso país.


AGENTE ETIOLÓGICO


O fungo causador da esporotricose é o Sporothrix schenckii, uma espécie de fungo dimórfico da família Ophiostomataceae. Sporothrix schenckii é a única espécie descrita para o gênero Sporothrix.

S. schenckii em forma de bolor
S. schenckii em forma de levedura


EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO

Cães, gatos e seres humanos são suscetíveis à doença, que geralmente está associada à feridas e traumas cutâneos. Em cães, a forma de contágio mais comum é através de espinhos ou lascas de madeira; Os gatos de forma geral tem o hábito de cavar buracos para enterrar suas fezes e urina, além de arranhar troncos de árvores para demarcar território, nestes casos, se o fungo estiver presente no ambiente, terra ou tronco, o gato irá contaminar suas unhas, podendo infectar outros animais ou o homem, mesmo estando saudável; O homem pode ser infectado ao trabalhar em lavouras, cultivos de rosas (espinhos) ou diretamente através do contato com animais contaminados: se estiver com algum ferimento na pele e tiver contato com secreções provenientes das feridas dos animais; podendo ainda contrair esporotricose ao ser arranhado, caso o cão ou gato tenham o fungo nas unhas.

PERÍODO DE INCUBAÇÃO


Varia de três dias a seis meses, tendo uma média de três semanas.


PATOGENIA


O gato transfere o conteúdo de suas unhas através da lambedura, passando o fungo presente nos membros para o focinho e orelhas. Havendo uma solução de continuidade (ferida), o fungo penetra no tecido subcutâneo, onde inicia-se o desenvolvimento de pequenos nódulos de um a três centímetros de diâmetro no local da inoculação e à medida que a infecção atinge os vasos linfáticos, desenvolvem um cordão de novos nódulos, ocorrendo pústula local ou ulceração. A infecção se desenvolve por difusão hematógena ou  tecidual do local inicial da inoculação para ossos, pulmão, fígado, baço, testículos, trato gastrointestinal ou sistema nervoso central.


SINAIS CLÍNICOS


Os sintomas dependem de qual ou quais órgãos foram afetados. A forma cutânea é a mais comum, podendo apresentar-se de quatro maneiras diferentes:


  • Cutâneo-localizada: formação de nódulos localizados, avermelhados que podem aparecer nos olhos e na boca.
  • Cutâneo-linfática: caracteriza-se por nódulos que podem atingir os vasos linfáticos e ocasionar disseminação linfática, caracterizada por um cordão de nódulos.
  • Cutâneo- disseminada: nódulos se disseminam pela pele, comum em imunodeprimidos.
  • Extra-cutânea: atinge outros órgãos além da pele - ossos, pulmões, fígado, baço e sistema nervoso.


Gato com esporotricose - lesão nasal




Esporotricose felina - várias lesões na face e membros

DIAGNÓSTICO

O Diagnóstico é baseado no histórico relatado pelo proprietário, exame físico e dermatológico realizado pelo médico veterinário que compreende exames laboratoriais para identificação do agente etiológico. A confirmação diagnóstica é feita com o isolamento do Sporothrix schenckii em meio de cultura.


TRATAMENTO


Os gatos respondem bem ao tratamento antifúngico regular e prolongado, sendo os medicamentos de escolha para tratamento os iodetos inorgânicos (iodeto de potássio e iodeto de sódio), cetoconazol e itraconazol. O itraconazol e o cetoconazol mostram resultados encorajadores contra doenças fúngicas, porém, é importante ressaltar que, independente da droga de escolha, o tratamento deve ser seguido sob supervisão de um médico veterinário que indicará o tempo de tratamento e o momento da suspensão do uso de medicamentos, pois muitas vezes, ao menor sinal de cicatrização das lesões, leigos suspendem o tratamento sem o consentimento do médico, ocasionando recidiva da doença.




SOS Felinos: A gatinha Linda, com esporotricose  - lesão nasal


Linda após tratamento

PROFILAXIA


A esporotricose é uma doença contagiosa, portanto, é de fundamental importância o cuidado na manipulação de animais contaminados, pois o conteúdo das lesões (secreções e exsudatos infectados) são as principais fontes de contaminação. Os animais em tratamento devem ser isolados do convívio com outros animais e pessoas até o final do tratamento. No caso de gatos que tem acesso ao meio extra domiciliar, recomenda-se castração para diminuir suas saídas e contato com possíveis locais contaminados, uma vez que o agente etiológico encontra-se no meio ambiente e seu controle é praticamente impossível. Os gatos que vivem confinados em apartamentos estão praticamente livres do risco da doença, exceto se você utilizar areia ou terra de origem duvidosa, por isso, indicamos o uso de areia sanitária, aquela encontrada nos supermercados e pet shops. Para as pessoas que trabalham na agricultura e na lavoura, recomenda-se o uso de luvas apropriadas para evitar o contato direto com a terra e os espinhos de algumas plantas, tendo em vista que a doença também é conhecida como " Doença de rosas de jardim".


CONSIDERAÇÕES FINAIS








Apesar da esporotricose ser transmitida por gatos, vimos que também pode ser adquirida sem a intervenção deles, uma vez que o fungo está presente no ambiente, assim como vários outros agentes etiológicos de inúmeras doenças. Nosso objetivo é alertar para a existência do risco e indicar os principais meios para evitá-lo e, se for o caso, combatê-lo. 


Até a próxima postagem!



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

GATOS: MANUAL DE INSTRUÇÕES

PARTE 5: PRINCIPAIS ZOONOSES


Continuaremos abordando o tema Zoonose, mostrando que nosso amigo gato as vezes pode participar da transmissão de doenças ao homem.







5.3 RAIVA

A raiva é uma zoonose viral, que se caracteriza como uma encefalite progressiva aguda e letal. Existem dois ciclos de transmissão, o urbano, no qual tem participação como vetores os cães e os gatos; e o ciclo silvestre, onde no meio rural o principal transmissor é o morcego hematófago e na área silvestre a raposa.


AGENTE ETIOLÓGICO
O vírus da raiva pertence à família Rhabdoviridae e gênero Lyssavirus. Possui aspecto de projétil e seu genoma é constituído por RNA.


Lyssavirus

RESERVATÓRIOS

Urbanos
Cães e Gatos
Rurais
Animais de produção: Bovinos, Caprinos, Ovinos, Equinos e Suínos
Silvestres
Morcegos, Raposa, Sagui


MODO DE TRANSMISSÃO




A transmissão da raiva se dá pela penetração do vírus contido na saliva do animal infectado, principalmente pela mordedura e, mais raramente, pela arranhadura e lambedura de mucosas.

O vírus penetra no organismo, multiplica-se no ponto de inoculação, atinge o sistema nervoso periférico e, posteriormente, o sistema nervoso central. A partir daí, dissemina-se para vários órgãos e glândulas salivares, onde também se replica e é eliminado pela saliva de pessoas ou animais enfermos.

PERÍODO DE INCUBAÇÃO

É extremamente variável, desde dias até anos, com uma média de 45 dias, no homem e de 10 dias a 2 meses no cão*. O período de incubação está diretamente relacionado à:
  • Localização, extensão e profundidade da mordedura, arranhadura, lambedura ou contato com saliva de animais infectados;
  • Distância entre o local do ferimento, o cérebro e troncos nervosos;
  • Concentração de partículas virais inoculadas e cepa viral.
* nos gatos, o período de incubação é semelhante ao dos cães.


SINTOMAS

Três fases são reconhecidas: precursora ou prodromal, excitativa e paralítica. A duração total raramente é maior do que 10 dias; em média, a duração é de 5 a 6 dias.

a) Fase Precursora ou Prodromal (duração de 2 a 3 dias):

Mudanças na disposição: Um animal quieto se torna ativo e excessivamente amigável; o animal ativo se torna nervoso e assustado.

Dilatação das pupilas, salivação; o animal "morde o ar" e late com som agudo (cães);

Modificação da andadura (passo), com possível rigidez e contração da musculatura facial.

b) Fase Excitativa ou Raiva Furiosa:

Aumento dos reflexos de irritabilidade;

Dificuldade de deglutição, sialorreia;

Síndrome de ataque: agressão violenta e viciosa ("olhos faiscando", boca espumando, pelos do dorso arrepiados). Este período pode durar de 1 a 4 dias. Há progressão para um quadro convulsivo terminal ou paralisia, se o animal viver por um período mais prolongado.

c) Fase Paralítica ou Raiva Silenciosa:


Se a fase excitativa não é observada, ou é muito curta, então a denominamos como Raiva Silenciosa ou Paralítica.
  1. O animal não se encontra irritadiço, raramente morde;
  2. Paralisia ascendente dos membros - causando marcha trôpega;
  3. Paralisia de mandíbula (pode ser antes da paralisia dos membros ou concomitantemente) - causando sialorreia, língua pendendo para fora da boca;
  4. Alterações oculares, como Anisocoria;
  5. Somente 25% dos casos de Raiva em felinos correspondem a este tipo (Paralítica), comparado aos 75% de casos observados em cães.


Paralisia
Anisocoria
Agressividade














DIAGNÓSTICO


Sempre que houver sintomas neurológicos e a origem for indeterminada, deve-se suspeitar de Raiva. Como precaução, tomar as seguintes medidas profiláticas durante o diagnóstico:


Isolar o animal suspeito;


Se alguma pessoa for mordida ou tiver contato estreito com o animal suspeito, deverá lavar imediatamente o ferimento com água e sabão e procurar auxilio médico.


Consultar um veterinário do Centro de Zoonoses;


Enviar amostras de tecidos (de preferência da cabeça toda, ou a região do hipocampo cerebral e cerebelo) para laboratório de diagnóstico.


O veterinário, recebendo o laudo do diagnóstico, deverá notificar as autoridades sanitárias locais; Deverá também, comunicar ao proprietário do animal e colocar os animais expostos ou suspeitos em quarentena.



TRATAMENTO


Nenhum tratamento deverá ser tentado. Se o animal exposto ao vírus não é vacinado, em se tratando de animais abandonados, recomenda-se proceder a eutanásia, para coleta de material para diagnóstico laboratorial.


Uma alternativa seria manter o animal suspeito sob quarentena de 6 meses, o que nem sempre é viável.


Se o animal exposto tiver um proprietário e for anteriormente vacinado, recomenda-se o seu isolamento para observação clínica por 10 dias, após esse período, o animal deverá ser revacinado.


VACINAÇÃO


As vacinas induzem altos títulos de anticorpos neutralizantes, aproximadamente entre 7 e 21 dias após a vacinação (período negativo de imunidade), utilizando-se tanto a vacina a vírus vivo modificado, quanto a vacina inativada.


A duração da imunidade pode ser de até 3 anos, para as vacinas vivas ou inativadas, em cães ou gatos, mas para obtermos uma imunidade máxima é recomendável a adoção do esquema com revacinações anuais. A primovacinação é recomendada para cães e gatos a partir do quarto mês de vida.


PROFILAXIA


Já que dificilmente se consegue vacinar todos os animais errantes, fundamental para a persistência da cadeia de transmissão, recomenda-se o recolhimento de cães e gatos de rua, visando reduzir a circulação do vírus nos animais errantes. Também é recomendado o envio para diagnóstico laboratorial dos animais suspeitos de raiva.

Pessoas sob risco (profissionais de saúde) devem tomar a vacina para evitar a doença.

CONSIDERAÇÕES FINAIS



Bom, não precisa ficar assustado! Agora você já sabe que é importante vacinar seu amigo e tomar todos os cuidados. Para um gato contrair a raiva é preciso que ele não seja vacinado e que seja mordido por um cão ou outro animal infectado. Você é responsável pela saúde do seu filhote, portanto, cuide dele!

Até a próxima!